sábado, 23 de abril de 2016

Runei - o despertar da multidão ( 2 de 2 )

  Os portões se abriram revelando o vazio. Sten olhou fixamente, ainda sobressaltado porém seus instintos não sinalizavam nada de ameaçador. Buscou seus companheiros escondidos entre as folhagens próximos a entrada do túnel, fez um sinal que apenas seus soldados, Pirtrio e Pãtrio viriam entender. Ele entraria e se demorasse muito para voltar eles poderiam entrar, não queria arriscar nenhuma vida na incursão, preferia verificar sozinho.
Os passos cautelosos do selvagem ecoavam nas paredes alvas. Pelos vitrais, do corredor mais externo da grande fortaleza, o buraco ainda estava em chamas. Tudo dentro daquele lugar era majestoso, um contraste gigantesco com a pobreza da parte baixa de Runei, pinturas exaltando o senhor alvo e sua família que era composta de dois filhos, sua esposa e uma filha; haviam pinturas do monstruoso cavaleiro escarlate primordial. Um arco mostrava um corredor que dava acesso ao interior da parte alva. Escavada nas paredes da pedra, a cidade teria o tamanho de metade de Tya, descendo um pouco Sten viu os acessos para o local aonde ficavam os arqueiros que o atacaram. Ninguém estava ali, não teriam eles evacuado aquele local tão rápido.

Aprofundou um pouco mais nas galerias que levavam a um círculo, iluminado pelo sol que entrava pelo topo da construção através de um buraco com mecanismos nas bordas enormes, que tinha do local aonde ele olhava era separado em partes, haviam ruas, plantações, criadouros de todos os tipos de animais e uma sala dourada que ficava fixada na parede do que era o fim daquela parte central. Descendo as galerias do grande castelo Sten lembrou a composição dos formigueiros verde-mato, aonde elas montavam várias casas e locais de descansos para suas operárias enquanto a rainha cuida da parte de alimentação e transmitia a formas de expansão do formigueiro. Nas ruas do círculo Sten observou as plantações que agora pareciam envenenadas assim como as matas perto de Runei, o cheiro era o mesmo; os animais estavam catatônicos, com andares lentos tudo causado pelas pedras fincadas na parte central da cabeça de cada um deles, as veias saltavam mostrando que foram transformadas em pedra escarlate. Quanto mais se aproximava da sala dourada um fungar aparecia no ar, ele olhou com calma todo o local e o barulho vinha da fenda na parede próxima a sala.
As mãos de Sten mergulharam no breu, sua mão esquerda encontrou a nuca e a direita agarrou um ombro. Os olhos prata da menina de cabelos negros fitavam o homem com a armadura de Tya. A menina sentiu mais lágrimas acumularem nos olhos até que firmou os lábios finos e contraiu as sobrancelhas, não deixando uma só se derramar.
— O que você quer com o reino do meu pai? É por sua causa que os homens de vermelho machucaram todos e forçaram a saírem daqui?
Sten a soltou, deixando ela no chão e agachando para ter uma conversa na mesma altura que a menina
— Como é seu nome?
— Finuara, a herdeira da cidade lunar – estava firme mesmo diante do desconhecido
— O que aconteceu aqui, você pode me contar.
— Os soldados vermelhos apareceram aqui a muitas luas atrás e participaram de uma festa. Depois dessa festa meu pai começou a construção de um grande túnel, ele sempre me levava pra ver quantas pedras vermelhas e verdes possuíam nas paredes do túnel – ela fez uma pausa deixando uma lágrima sair pelos olhos – ele iria até o grande castelo da montanha. A duas luas atrás o monstro vermelho chegou com seus soldados e meu pai ficou bravo, muito bravo e hoje de manhã antes do som de aviso do grande mago os soldados vermelhos atacaram, mandaram meu pai e todo nosso povo cravar a pedra vermelha em nós mesmo. Meu pai mandou eu e meus irmão nos escondermos e tentou revidar. Ele não queria aceitar as ordem do monstro vermelho. Eu me escondi e não sai por nada. Agora vejo que todos foram embora.
— Aonde esta esse túnel?
— Fica na parte de trás do trono dourado.

Sten forçou a porta do que a menina chamou de trono e quando abriu a terra havia tomado conta do local, haviam feito a passagem desmoronar. Um barulho constante de engrenagem marcava alguma coisa, um sino badalou.
— O que é isso? – Sten perguntou a menina.
— O sistema de fechar, papai criou pra nos manter trancados durante a alta noite. Começa trancando as portas mais interiores e até as grandes…

Sten a pegou no colo e começou a correr:
— Eu quero ficar aqui!
— Menina tudo que é suprimento aqui esta envenenado, você só morreria.

A velocidade que o selvagem alcançava era grande mesmo com aquela armadura, além do barulho das engrenagens Sten escutava também o rachar de rochas, passou pelas grandes galerias, pelos quadros. Uma porta que dava para a saída do grande portão estava prestes a se fechar por completo ele jogou a menina no meio das portas que surgiam da lateral do corredor
— Vai até a mata e fale que Sten mandou te protegerem.
Ele correu para trás voltando a parte dos vitrais, um corredor mais interno daria para a outra saída. Correu ate a porta e a viu se fechar, estava preso. Quebrou os vitrais e observou melhor, passou para o lado de fora dos vitrais e segurando nas bordas sem locais para firmar os pés, aproximando da lateral que não tinha mais vitrais quebrados viu que a distância da beirada que ele se agarrava até o topo poderia ser grande para ele. Um tremor entortou o metal liso da lateral do castelo e ele alcançou com dificuldade apoiando seu pé na beira deu impulso e subiu uma lateral que continuaria até estar perto do portão grande. A parte alva teve os seus corredores externos arrancados pelo outro tremor. Sten saltou em direção a parede da rocha retirando a adaga de dentro da armadura.
Sua mão apoiou sentindo-se escorregar, fincou a mão em uma rocha irregular. O barulho foi enorme abaixo dele, com a adaga do dente de cobra d'água criou outro vão para colocar sua mão e com movimentos repetitivos de escavação e apoio chegou até o portão. Cansado viu Pirtrio.

— Eles não estão aqui, Voltemos para Tya precisamos acolher o povo de Runei aonde eles possam se sustentar.

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