quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O vale costas-do-esqueleto - O necessario

As cores do vale começaram a figurar diante dos olhos atentos de Loreah, ela estava submersa em lembranças. Quando o sono não aparecia ela matinha a mente ocupada, tentando achar motivos para o ataque a sua aldeia. Ela andou até Marian e a acordou.
—Vamos, não querias aprender?
Ainda confusa a mulher de cabelos castanhos, se levantou de pronto. O corpo dela estava começando a se acostumar a aquelas situações. Andaram se afastando dos dois, que ainda estavam dormindo.

—Vamos começar pela postura e andar.
—Como assim?
—Precisas de equilíbrio. A batalha se encontra toda nele.
O franzir do nariz de Marian denunciou sua falta de entendimento, a ladina apontou logo para a cicatriz no braço direito.
—Com equilíbrio certo, consegui vencer até o bloqueio do Liof e te causar um ferimento grave —
A líder de Falligan entendeu enfim que não só aprenderia a se defender mas também causaria dor e isso fosse o que ela vinha evitando — Toda a questão não é acertar, é tomar a decisão mais certa para o momento e equilibrar-se é ter todas as decisões nas mãos.
Suas palavras ecoaram com a voz de seu pai em sua cabeça.

Ela riscou linhas no chão que iam da beira do rio até a parede do vale, ao terminar não precisou falar o que fariam. Começou a correr pisando entre as linhas e voltava pisando da mesma forma, Marian começou a correr junto com ela. Chegando no centro percebeu que a passada de Loreah se tornava diferente, ela pisava de lado e sua velocidade continuava a mesma. Ela tentava acompanhar mas seus pulmões reclamaram, a ladina estacou consequentemente a mulher dos cabelos castanhos também.
—Olhe suas pegadas no chão – elas ficaram alguns segundos em silêncio.
—As minhas se misturam com a linha. Eu cheguei a pisar algumas vezes.
—Exato, Observes e aprendas.

Elas retomaram a corrida.

Liof acordou, cruzou as pernas e buscava no fundo da sua mente os movimentos do passado. Sten observava calado ao longe as duas mulheres treinando.
—Mestre, quando voltaremos as lições?
—Eu não me lembro aonde estávamos, eu não me lembro de muita coisa da época da floresta.
—Você estava me ensinando o combate de mãos. Pelo menos era assim que você falava.
—Entendo — a mente dele vagou buscando alguma referência. O rapaz percebeu a dúvida na mente do velho.
—Homens são como armas, como flechas, são homens-flechas. Onde unidos podem representar sua grande potência, a ponta é o ataque, o fuste é a base e as penas são a defesa. Você poderia utilizar qualquer arma e encontraria a mesma ideia. — ele deu uma pausa — Foi isso que você havia dito um dia antes de toda a sequência de fatos que nos trouxeram até aqui.

O Guardião analisou tudo aquilo e os movimento vieram na sua cabeça novamente. Ele levantou, devagar, respirou profundamente e fez um movimento acompanhando o vento. O tempo voltou, e ele acompanhava ant'jur. A respiração parou e o movimento também, uma pontada atrás dos olhos. Ele forçou o corpo a continuar e fixou na lembrança. A cabeça reclamou, dessa vez não foi surpresa, ele aceitou a dor e manteve o movimento. Ele enxergava o homem de roupas largas e confortáveis, a barriga grande, a barba e cabelos escuros e o olhar determinado. Com sangue escorrendo pela boca e os dentes encharcado com o líquido, caído e arfando em seus braços.
Ele abriu os olhos e viu que Sten o copiava precisamente. Ele então foi firme.

—Vamos! retire a sua adaga.

Loreah, achava importante a determinação de Marian. Era algo essencial na mulher de olhos marcados por acontecimentos dolorosos, Ela a olhava como igual.

—O meu povo sabia sobre o equilíbrio, sobre o momento certo de saber fugir. Meus familiares saquearam mais de dez alojamentos vermelhos, andavam livres pelo mundo, se esgueirando nas sombras e buscando abrigo em qualquer lugar. Os que saim nem sempre voltavam, eles sabiam dos riscos e aceitavam a consequência de suas escolhas.

A ladina prestava atenção nos passos, retirou a ponta da flecha que havia sido ricocheteada pelo golem e arremessou na direção do pé da mulher que repetia a ação ensinada. Mecanicamente ela trocou a forma de pisar e apagou parte de uma das linhas, As sobrancelhas de Marian se curvaram e seus olhos foram de encontro a ladina procurando explicações.

—Atenção, não deixe que minhas ações afetem seu equilíbrio. Você aprendeu a repetir. Aprenda a variar. Uma pausa.

Beberam um pouco da água do rio, ela tinha um gosto de minério mas não se importaram.

—Esse exercício, vai durar quanto tempo? — ela estava ansiosa para fazer coisas que vira a ladina fazer.

—Até você desenvolver um novo. Esse exercício, eu criei quando fui treinada por meu pai e por minha mãe. Meu pai me ensinava como sobreviver e minha mãe a combater. —Orgulho e saudade emanavam de sua boca.


Liof atacava, e Sten defendia perfeitamente. O pé do sábio buscou a lateral do corpo do jovem, com um salto ele evitou o golpe. Encostando os pés no chão a lâmina de Liof resvalava na adaga do oponente, Sten estava em defesa. Como as plumas de uma flecha a defesa dava estabilidade, para análise. A adaga fez um arco na frente do rosto do homem de cabelos brancos. Ele refutou o movimento largando a espada curta no chão e levantando as duas mãos, forçando o golpe do garoto a ir em direção ao céu cinza. A adaga foi forçada a sair da mão que a empunhava. Ela caiu. Os joelhos ,de ambos, se encontraram no mesmo local, os dois perderam a base. Agora ambos figuravam ao chão esfregando para esquentar a área do joelho que sofreu o impacto.

—Está certo, você tem reflexos e percepção bem afiados.
—Coisas que a floresta-sem-luz proporciona com o tempo. — ele havia entendido que seu mestre não se lembrava de nada mais recente.
— Não se gabe, não comecei a te treinar pra valer. Queria saber até onde tínhamos ido.

O sorriso brotou nos lábios de Sten.

Após um tempo de treinamento ouve uma pausa, Liof se direcionou até Loreah


—Vamos a frente? — questionou o guardião.
—Não, se faz necessário mais dois dias de treino antes de sabermos o que se esconde daqui pra frente.

Ele assentiu com a cabeça. Voltaram então para seus treinos. A noite se foi e ambos os mestres estavam contentes com a progressão dos aprendizes.

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